O arrependimento é um dom de Deus?

Atos 5.31

“Deus o exaltou, colocando-o à sua direita como Príncipe e Salvador, para dar a Israel arrependimento e perdão de pecados.” Esse versículo é considerado um apoio à afirmação dos calvinistas extremados de que o arrependimento é um dom concedido somente aos eleitos. Mas 2 Timóteo 2.25 acrescenta que se deve “corrigir com mansidão os que se lhe opõem, na esperança de que Deus lhes conceda o arrependimento, levando-os ao conhecimento da verdade” (v. At 11.18).

Resposta

Primeiramente, a afirmação é que, de acordo com esses versículos, o arrependimento é um dom no mesmo sentido em que o perdão, visto que os dois são colocados juntos. Se é assim, então todos os israelitas devem ter sido salvos, visto que as duas coisas foram dadas “a Israel”. Todavia, somente um remanescente de Israel será salvo (Rm 9.27), não todos. O mesmo esclarecimento é verdadeiro a respeito de Atos 11.18, que diz: “Deus concedeu arrependimento para a vida até mesmo aos gentios!”. Claramente, isso não significa que todos os gentios serão salvos, mas que todos têm a oportunidade de ser salvos. Igualmente, significa que todos recebem de Deus a oportunidade para se arrepender (v. 2Pe 3.9).

Em segundo lugar, a oportunidade de se arrepender é um dom de Deus. Ele graciosamente concede-nos a oportunidade de voltar de nossos pecados, mas o arrependimento cabe a nós. Deus não irá se arrepender por nós. O arrependimento é um ato de nossa vontade, apoiado e encorajado pela graça.

Além disso, se o arrependimento é um dom, então é um dom no mesmo sentido em que o perdão o é. Mas o perdão é obtido somente por Jesus sobre a cruz, para “todo aquele que crê” (At 13.38,39), não apenas para os eleitos (v. cap. 4 e 5). Por conseguinte, pela mesma lógica, a todas as pessoas deve ter sido dada a fé — conclusão enfaticamente rejeitada pelos calvinistas extremados.


Fonte: GEISLER, Norman L. Eleitos, mas livres: uma perspectiva equilibrada entre a eleição divina e o livre-arbítrio. Tradução de Heber Carlos de Campos. 2. ed. São Paulo: Vida, 2005.